Somos ou seremos bestas-feras?

05/07/2015 10:59
No seriado Wayward Pines, baseado no romance Pines, de Blake Crouch, dirigida por Chad Hodge e produzida pela Fox, um cientista faz uma reserva de seres humanos em animação suspensa, no qual ele mesmo se mantém até o ano de 2048, um futuro distante. No mundo desse tempo, a humanidade, como nós a conhecemos, já não existe mais. Resta, portanto, esse grupo de pessoas que, sem saber o que está acontecendo, são mantidas como prisioneiras em uma cidade cercada de muros, vigiada e controladas pelo grupo de apoio do cientista. Mas por que estão entre muros e não livres numa civilização destruída pelas guerras do passado?
Segundo o autor, os seres humanos “evoluíram” para uma condição diferente daquela que estavam acostumados. Aconteceu uma mutação genética, ou como o cientista chamou, uma doença que os deixou daquela forma e os mais fortes sobreviveram, permanecendo apenas eles no planeta. Deste modo, eles já não tinham pelos no corpo, ficaram mais altos, mais velozes, mais fortes, desenvolvendo garras e caninos afiados. Eles caçavam em bandos e atacava tudo o que pudessem comer, até os serem humanos que fugiam da vila. Numa cena é possível vê-los comendo restos de um animal morto há dias, ou seja, também se tornaram carniceiros.
Realmente, os seres humanos estão destinados biologicamente a se tornar bestas-feras no caso de um armagedom? Essa condição, que no seriado está latente nos seres humanos, é a mesma que hoje se manifesta psicologicamente na forma de sagacidade, impondo a dominação com base na subserviência do outro pela força ou pelo consentimento? Então, o ser humano já não se mostra besta-fera na roupagem corpórea atual?
Por outro lado, no seriado, as pessoas não podem saber o que está acontecendo fora dos muros, devendo se manter ignorantes da realidade. Segundo a história do seriado, o cientista, a princípio, introduziu um grupo de pessoas com consciência da realidade e que tinham por objetivo o de viver pacificamente e procriar, gerando assim uma nova humanidade. Porém, aos poucos, a passividade da vida os levou ao suicídio em massa. Assim, restou ao cientista, despertar mais um grupo de pessoas, mas desta vez provoca a ilusão sobre a realidade, impondo vigilância e punição severa para quem fale do passado. Aturdidos, sem saber ao certo do porque de estarem ali, começam a se juntar para maquinar conspirações visando à fuga do lugar, pois imagina se tratar de um experimento do governo. Deste modo, eles começam a se matar ou serem mortos por punição.
Existe solução, no que diz respeito ao relacionamento humano com base na sociedade do consumo, ou estamos conformados e sermos predadores, carniceiros e espoliadores? Na verdade, o seriado, embora simples na produção, nos leva a refletir sobre a realidade presente, não a do futuro. Pois a vida como se vive hoje, está conduzindo a humanidade para um ponto sem volta no caminho da evolução social, ou seja, dos relacionamentos. Presencia-se já a violência desenfreada, maus tratos, ódios, indiferenças, muito disso embasado em ideologias e contraideologias de solução. Portanto, o que se percebe é que não se necessita esperar um futuro distante para saber que o agora está projetando um cenário muito pior para o futuro próximo do que o pensamento futurista do autor planejou alcançar.